Lima, o branqueamento e a <i>troika</i>

Carlos Gonçalves

No capítulo d'O Capital em que trata a «acumulação original», Marx desmonta o processo de transformação das relações sociais de produção até ao capitalismo e explica a acumulação primitiva do capital –«na história real é sabido que conquista, subjugação, assassínio para roubar, ... violência, desempenham o grande papel». Vem isto a propósito do branqueamento de capitais detectado na investigação duma burla de 44 milhões de euros ao BPN, concretizada entre o ex-líder parlamentar do PSD Duarte Lima e o ex-sec. Estado Oliveira e Costa do governo PSD/Cavaco, então CEO do BPN. Os media relevam o percurso de Lima, da pobreza aos grandes negócios, e os 5,5 milhões de euros «honorários» nas suas contas suíças, pagos por Rosalina Ribeiro, que segundo a polícia brasileira são o móbil do respectivo homicídio.

O branqueamento e a fuga ao fisco foram concretizados pela Akoya Management, «empresa de gestão de fortunas» – em que decidia um ex-director executivo da Union de Banques Suisses –, através dum esquema complexo, com filiais do BCP, BES, BIC, Finibanco e BPN, offshores diversos, como Cabo Verde, onde hoje vive Dias Loureiro, ex-ministro e ex-sec. geral do PSD/Cavaco, também referido nas mega fraudes do BPN, que já custou a este povo mais de oito mil milhões de euros. Sabe-se que outros «empresários e políticos» recorreram a esta empresa, roubando mil milhões de euros ao País – são a ponta do iceberg dos 455 arguidos da «operação furacão» e dos «inatacáveis» grandes senhores do dinheiro. Desses processos constam os figurões do BPN, da «Face Oculta», da Moderna, de todos os crimes económicos, das PPP, da troika nacional e do pacto de agressão.

Fica assim evidente quem manda e ganha e quem paga, e ficam mais claros os mecanismos do sistema financeiro, a cumplicidade dos bancos «acima de qualquer suspeita», a fuga massiva ao fisco e o branqueamento. É o capitalismo que se revela intrinsecamente criminógeno, com a financeirização da economia, em espiral de especulação e agiotagem, e com as suas consequências, a «armadilha da dívida» e o saque das troikas e do pacto de agressão. O capital financeiro não tem cheiro, é apátrida, insaciável e criminoso. É urgente passá-lo à história.



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